terça-feira, 5 de agosto de 2008

Você é Bambu ou Tronco Rídigo?

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
Fernando Pessoa


O budismo aponta o medo e o apego como sentimentos que nos fazem lutar contra o novo. Apego aos princípios que aprendemos com nossos pais na infância. Apego à pessoa que fomos, a um bem material, a uma instituição onde trabalhamos por anos e acabou se tornando a referência de quem somos.
Para deixar algo passar, ou exercitar o desapego, é preciso ter um certo grau de flexibilidade, assim como o bambu que acompanha o vai-e-vem da ventania para não quebrar. O que eu gosto e o que eu não gosto mudam tanto. Estamos num processo que flui e, quando a gente flui com ele, tudo é agradável porque tudo nos aponta o caminho. Então, não há briga interior, não há resistência. Essa elasticidade depende também da história de vida. Se, para mim, as primeiras mudanças experimentadas foram decepcionantes, me trouxeram sofrimento, vou construir um modo de ver a mudança como algo ruim. Serei menos ousada. Já alguém que teve exemplos de um pai que correu riscos e se deu bem, por exemplo, pode encarar as mudanças como algo positivo. O tempo é outro fator determinante de como lidamos com o deixar de ser: quanto mais ficamos aprisionados num determinado padrão, mais cristalizado ele tende a se tornar.
O físico José Menezes traz um outro olhar para o impasse criado com o medo de mudar. Ele cita a lei do equilíbrio: “A busca de retorno ao equilíbrio é uma condição natural. Se você puxa uma mola, ela estica. Mas, quando você solta, volta à posição inicial, a não ser que estique demais, até romper.” Assim, temos que ter, sim, um certo grau de flexibilidade. Só que cada um precisa descobrir seu limite. Caso contrário, corre-se o risco de ser tão adaptável às situações a ponto de perder a própria identidade. Percebe? Na metáfora da mola, o rompimento é quando você se desloca tanto da sua essência que perde o sentido do que quer e gosta.

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